Não só o punk, mas parte da cultura skinhead (que teve origem na apreciação pela cultura e música jamaicanas), com o tempo também se aproximou e se envolveu com a cultura libertária. Em outros países, a união entre punks e skinheads (tal união é conhecida como Oi!) é comum. Juntas, essas culturas se posicionam contra o fascismo e pela autogestão.
Na cena de São Paulo, anos atrás, as coisas não eram bem assim. A cena Oi! Chegou deturpada e era comum encontrar pessoas que se diziam ligadas a esta cena agrupadas com fascistas. Houve tempos em que a cena Oi! em São Paulo era praticamente nacionalista, homofóbica e fascista.
Mas vivemos na era da informação, não? Parece que os militantes da cena libertária resolveram estudar um pouco mais sobre as origens dos movimentos contraculturais e descobriram que havia alguma coisa errada em tudo isso.
Recentemente muitos punks entenderam que existem skins antifascistas, muitos skins entenderam que o antifascismo não é se opor ao punk. Resumindo, ambos entenderam que existem pontos políticos em comum, apesar das distintas culturas, e que é possível agir em conjunto para atingir objetivos. Mas que tipo de militância está surgindo dessa união? Parece que é a militância do caneco e da porrada.
Muitos desses punks e skins, antes mesmo da crescente cena Oi!, já tinham um fetiche estranho em arrumar brigas com qualquer um que parecesse discordar de suas opiniões. E claro, com um grupo de marmanjos ou moleques munidos de armas brancas era muito mais fácil e gostoso brigar com os outros pelas ruas. Como já dizia uma música conhecida: “Cuidado se você estiver só e encontrar com um de nós”.
Se já era prazeroso brigar com sua banca de meia dúzia de pessoas, imagine só com a união entre duas bancas juntas! Isso direcionado contra os fascistas é, de fato, uma ótima ideia. No entanto, o que vemos é que essa sede por violência acaba tirando o foco da amplitude da luta antifascista. É mais cômodo sair caçando fascistas pelas ruas e esquecer outras formas de atuação. Infelizmente, chegam a menosprezar aqueles que agem por outras formas não violentas. Hipocrisia 1 x 0 Consciência.
É interessante alertar que a cena Oi! não pode atuar apenas dentro da cena contracultural. Existe uma sociedade enferma, uma sociedade que precisa de militantes comprometidos em atuar nas mais diversas esferas sociais. Estão esquecendo o povo para lembrar apenas do lado egoísta que precisa sair bem na foto, que precisa autoafirmar seu altruísmo, estão esquecendo o povo para lembrar apenas dos “carecas” e dos “fascistas”.
E por falar em fascistas, dentro de sua casa está tudo em ordem? Cacem as mães, cacem os pais, cacem aqueles amigos de bar, cacem aquele vizinho que chega bêbado em casa e bate na esposa... o fascismo está muito mais presente (em quantidade) na maior parte da sociedade do que nos próprios movimentos de direita. Ou seja, apesar desses movimentos direitistas exporem com devoção suas idéias fascistas, a sociedade alheia a esses movimentos possui dentro de si um fascismo herdado de séculos, o que numericamente significa uma ameaça maior do que os declaradamente fascistas isoladamente. Eis o real foco da luta antifascista: a população!
Não adianta apenas se unir com movimentos diversos e resumir a luta antifascista em brigas e caçadas. O antifascismo é propagação, é ação direta, é vivência diária, é respeito, é solidariedade...
Não queremos dizer aqui que essa união não deva acontecer. Pelo contrário, toda união que venha de encontro à emancipação social deve ser posta em prática. Mas é necessário que surjam boas ações e propostas de dentro dessa união.
É necessário que olhemos para dentro de nós, encontrando o fascismo que muitas vezes carregamos sem perceber, para que possamos eliminá-lo e evoluir como indivíduos.
Em nossa visão, o antifascismo propagado através da arte, cultura, zines, panfletos, intervenções urbanas, coisas que podem atingir de forma mais eficaz a população, sem carregar conosco uma imagem violenta que a sociedade e a mídia insistem em nos atribuir de forma errônea, são muito mais proveitosas.
Texto enviado para: A Revista Livre Zona
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